terça-feira, 19 de maio de 2009
Escrito por*Junior A. Magrafil
A latrina, a lua e o escafandro
I
Interações visuais, depois sonoras,
faces desconhecidas, e, após na latrina,
regavam sotaques,
uniam lugares,
iniciavam sentidos, olhares, sensos;
provocavam confiança desconfiada,
e quando asseados,
trilhando o caminho em retorno
ao comunitário do sono,
conversando, conhecendo, concebendo;
concorrendo dermes e epidermes, entre ela;
II
Corria-me por dentro o sangue
com tal rapidez que as carnes
fervilhavam de êxtase, e, assim,
passamos a entender o que ocorria,
na verdade.
III
No silêncio ela dizia:
– Vão-te!
Então, apenas a lua fitava a situação,
somente aqueles pernilongos insanos,
num período hermético,
belo tom discreto de violoncelo,
comprido e rápido;
completo e partido; e logo,
novamente, voltando àquele local
onde ela sonhava,
partiam para um sentir unido
no plano coberto.
IV
Carícias: um quase coito maduro
e inocente e visual, somente,
ao mesmo tempo – presumido;
e nós, dispostos ali até depois,
o tempo ia-se casualmente
e mais um momento raiava.
V
Viam-se em parceria constante;
convenciam-se de que era adequado,
e desde a alvorada até o fim do crepúsculo
não lhes passava nada no leito das idéias
que não fosse o brioso encontro.
VI
Fui levemente domado contigo,
talvez por decência,
talvez por exaustão,
talvez, ou de certo, ainda,
que fosse porque teu sonho e teu sorriso
foram capazes de paralisar-me
e consumir-me aos poucos;
e nesse consumo
(consumação verdadeira dos fogos),
nossas carnes ardiam num atrito
que iniciava pelos lábios.
VII
Cortavam-se com transeuntes doentes,
tentando conhecer o que maldizem,
mas logo, voltavam à consumação
que só o que fazia era ascender;
o tato rastejava,
as mãos sussurravam por entre as vestes;
VIII
Os olhos projetavam cenas eróticas de amor:
um escafandro pessoal que apenas nós,
sendo um, naquele instante,
veríamos numa versão virginal.
Não suportando a força de tanta emoção contida,
transportamo-nos para o único lugar previsto nosso,
durante aquela ferveção de almas
altas e tortas e loucas e tontas,
e que só pôde conter as vestes por segundos;
IX
Lá, defronte a obstáculos humanos,
dispersos em leitos suspeitos de alçarem-se,
o encontro progredia numa clausura
não-cárcere, não-reclusão;
um ponto guardado apenas para eles
e seus desejos doentes
por legítima vontade e disposição.
X
Roçamos os lábios, fervemos o sangue,
cantamos os punhos e as bocas reciprocamente,
e, felizes, sorrimos;
depois, transformamo-nos num emocionante
jogo de encanto e encaixe,
levantando, suando, abaixando, molhando, soando,
elevando aos ares toda essa interação bucólica.
XI
Eram instrumento vivo da excitação,
escravos da dor boa,
convencidos a perpetuar até o fim:
a antiga e fogosa arte orgástica
resultante da atração e repulsão de corpos
quentes e úmidos.
XII
Nesse instante de pino,
entrelaçavam-se os abraços,
as bocas sussurravam palavras
e beijos amantes,
na intenção de guardá-los
no reflexo de seus olhos.
Caxias,
Junior Magrafil (14-04-2009)
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3 Comentários:
o título é ótimo.
Magistral, Junior!
Muito sucesso!!
Carvalho Junior
Muito bom esse poema, um dos meus preferidos...parabéns Junior.
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