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quinta-feira, 23 de setembro de 2010


O filme perdido


Ele não sabia que vivia sozinho,
mas um dia o olhou e viu que esteve mesmo;
e pensou não estar mais.
Ele correu para o encontro,
beijou e foi beijado
tão intenso que a noção foi perdida
aquela noite.

Depois disso, aquela noite se repetia,
seu peito filmou tudo – replay.
Porém, o vídeo fazia mais sentido
só como vídeo.
As fotografias faziam mais sentido
só como fotografias.

A solidão gostava tanto dele
que não deixava
o amor dele contaminar o outro:
aprisionava, mantinha só.
Nem a empatia atingia o outro.
O vídeo preferido que a solidão mostrava
só para o coração daquele,
se perdeu.
De tanto o filme se repetir,
ele ralou, quebrou, parou de rodar.


Caxias,
Junior Magrafil (2707-2010).
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quinta-feira, 16 de setembro de 2010


essencial


não se apavore,
eu não mordo,
apenas ladro - e ladro mal.
não se assuste
com o meu falar racional,
pensar estrutural,
quase, ou mesmo longe do crédulo.


não, não se intimide,
eu sou um homem,
um menino, um cão.
mas não se curve
à idéia de que sou torto;
ensina-me a curva,
completa-me de água e sal.


Caxias,
Junior Magrafil (15-09-2010).
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terça-feira, 14 de setembro de 2010


À noite


Dize-me estrela altiva,
que por medo de te ter
quase perdi teu brio.

Dize-me céu noturno,
que por susto, d’aquela estrela,
quase fugi-me de meu sonho.

Teto de absurdo véu escuro
que cobre todos os amores (e temores);
acalanto-me a uma luz pequena,
que me serve de poemas e cores.


Teresina,
Junior Magrafil (13-09-2010).
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Descuido púbere

Professor e aluna. Viu-se grávida e solitária (a dois); ele, então, desempregou-se moralmente, mas viveu.
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O tal casal

Pintou. Escreveu. Bastou cada um mostrar seu ser -- e um olhar. Casamento. Eternidade.
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Frustração

Espalha flertes, dor e amor. Ele, que gosta deles, os ofende por medo; embora eterno casulo entreaberto.
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Sinestesia


Tua legião de luzes brancas (pois reúnem todas as tonalidades) vindas dos olhos que ambicionam negros ser – talvez pelo excesso de cor, talvez pela beleza do contraste que tu me disseste – desenham-me de maneiras cada vez mais milagrosas. Qual tal fosco? Melhor? Pois bem, que até em tuas lentes fico bonito. Fico, porque é por tuas lentes. Sim, desejo mais, bem mais contigo, dedos que ultrapassam olhares, olhares que falam com as bocas, bocas que sentem (não continuarei; vergonha); basta dizer que do mais sublime da alma ao carnal tuas virtudes me cantam melodias de brisa calma, que passa e volta, e mais tarde o calor foge e me mata de nem sei mais dizer.
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domingo, 12 de setembro de 2010


Cajus, castanhas, ínas

Ele é pequeno e vem.

Sabes meus problemas
– um, a troca de pele;
dois, a minha insônia; três.
Enquanto me fazes beber água,
não me deixas esquecer:
telefone, cuecas, dinheiro
– mas lembro, esqueceste tua chave!

Ele é pequeno e vai.

Ônibus, caminhar, táxi;
pois que não me deixas.
Teu riso de linhas alongadas,
olhos fininhos, meu caju,
encantam-me de tão leves,
de tão cajus, castanhas, ínas
– Cajuína minha.

Ele é pequeno e traz.

Letras, músicas, melodias em voz;
quando me ralhas ainda pedes?
Quando me espreitas, cadê que não olho?
Teu leãozinho vaidoso,
sou à estrela ou sob o calor,
sobre lembranças e tempo;
que desenhas em corpo e mente.


Caxias,
Junior Magrafil (08-09-2010).
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sábado, 4 de setembro de 2010


Fluição


Tal como o poeta escreve mais
na tristeza;
o pintor colore sua tela
na feliz motivação.

Tal como o jardineiro poda detalhes
no outono;
o ator reverbera no palco
sensibilidade.

Tal como o compositor reordena-se
pelo achego;
um violino fino e calmo toca
– mais doce;
ao te ver à minha face,
em meu instante,
em tudo mais ou de menos que há.

Meu bem, as tuas mãos
afogam dores do passado
e afagam o que há em constante
no desejo: sufrágio.


Caxias,
Junior Magrafil (02-09-2010).
 

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