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segunda-feira, 27 de julho de 2009



Síndrome de Pandora

Esperar não é pra qualquer um e não é bom, nem um pouco. A esperança é uma louca devassa sem pena dos amantes. Ela espera por nós e nós esperamos dela, eternamente. É lindo esperar por alguém e ver que, no final, tudo deu certo. Mas e quando não dá? Esperar dói, cansa, desanima, desanda, desconstrói, humilha, assusta, arrebata. Se é verdade que ela é a última que morre, igualmente é a primeira que mata. Uma amizade de anos, um amor de séculos, uma convivência de tempos. Quando ela acaba, tudo dolorosamente acaba. Por que às vezes chamamos a vida de “projeto de vida”? De projeto ela não tem nada! Não tem nada de concreto, não há certeza, não há estatísticas com margem pra mais ou pra menos. Esperar o incerto da vida é se afogar na ilusão de um apaixonado. Por isso eu digo que “se é verdade que ela [a esperança] é a última que morre, igualmente é a primeira que mata.”


Caxias,
Junior Magrafil (27-07-2009)
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quarta-feira, 22 de julho de 2009


A flor e o Urubu-rei


Por que todos te amam, flor?
Você é tão recatada, tão pura, tão digna assim?
Você é bucólica!
É difícil entender por que os urubus te cercam,
num deleite de que como carniça fosse.
Não seria teu interior, então, o que eles vêem, flor?
Não seria teu passado sujo?
Tua beleza contrapõe as tuas dúvidas;
tua pureza renega o decorrido;
tua franqueza afirma as minhas dores.
Cheio eu de teu cheiro cruzado,
palavras não ditas,
olhares perplexos-paradoxos,
sou combalido apenas
a uma realidade tez em tuas pétalas;
sou o rei deles, pois toco teu aroma, flor.


Caxias,
Junior Magrafil (22-07-2009)
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segunda-feira, 20 de julho de 2009

Cagando

Pode não ser minha especialidade prestar atenção, mas, sim, às vezes presto atenção àquilo que talvez não interesse imediatamente aos outros, isto é, aquilo que geralmente passa despercebido e em que se precisa refletir muito para que se consiga extrair um suco ajuizado ou ainda mais insano que a realidade, ou no fim, até prosaico. Digo isso porque um dia desses eu andava na calçada ao lado do Palácio de Karnak, em Teresina, e, mesmo acompanhado conversando com três amigos, escutei um mendigo dialogando com outros: “- Vou cagar lá dentro do palácio”. Naquele instante, então pensei: “- Que lindo! Ele vai cagar lá dentro”. Putz! Será que ele fez uma crítica construtiva ao Governo? Será que a dirigia a nós? Ou queria só cagar mesmo e eu que fui intrometido no seu diálogo? Ha-hA! Isso me fez pensar se sabemos criticar o Governo, e se sabemos, primeiramente, nos criticar. Nossa, fiquei com vontade de cagar lá também...rs! Mas vou antes ao meu banheiro.


Caxias,
Junior Magrafil (20-07-2009)
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sexta-feira, 17 de julho de 2009


O bem amado

Olhavam-se pelas veredas da dúvida naquela casa. Havia uma vizinhança obscura, onde duas mentes amadas se amavam e não saíam de seus postos amantes, eram loucas faces em forma de um ser somente que se designava amor. Também dois outros corpos brincavam desnudos, enrolados, de conjunção carnal idêntica, mas podre, no que o onisciente narrador menciona.
Foram dias insólitos passados em meio a tal vizinhança, esbarrando-se às vezes. Um período de teste de conhecimento. Nada melhor do que a convivência para se conhecer a verdade dos fatos, dos atos de cada um. Ela revela o bem e o mal, mas o bem amado também.
- Deixa ver como será.
E foi quando eles se sentiram inerentes, porque os dois lados do sentimento lutavam sem chegar jamais ao fim das batalhas. Vê-se, então, que se nenhum lado pende mais, é porque a lei do equilíbrio estabelece-se aí. Os dias passaram unidos, fazendo coisas inocentes e íntimas.
- Para nós todo o amor do mundo.
Mereciam, e dormiram juntos.
- Pra eles o outro lado.
As coisas vão além do que se vê, e ver quem se quer partir colide as alegrias passadas com as dores; toma o ser de euforia e de esperança.
“- Faz tanta falta o teu amor”, mesmo que se grave os instantes, ou que se olhe as fotografias, as cartas, as declarações de amor.


Caxias,
Junior Magrafil
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A praça

Ele ia pra lá, às vezes pra encontrar com uns amigos, andar ao redor dela, olhar faces alteras, sumir um pouco da agonia caseira, ou simplesmente pra fumar – mas nunca sozinho.
Naquela praça cansada e triste, mas soberba: palmeiras enormes decoradas com a brisa calma do quase deitar solar, bancos distribuídos, muito verde, muita flor, pedras ornamentativas e uma figura solitária e imponente no centro. Aquele local lhe causava uma nostalgia dos 8 anos, dos 10, dos 13 ou 14, até mesmo dos 17 ou 18 anos; da vida inteira. A nostalgia se repete nos semblantes de todos que por ali passam. Aquele homem-símbolo cantando poesia eternamente, berra o passado sobre nossas cabeças, evoca os deuses da memória.
- Explique a minha paz!
Primavera! Perfume ao vento. As rosas dele sangravam quando colocava as mãos sobre o peito. Quem nunca amou? Ninguém vaga pelas praças da vida sem cheirar uma rosa e levar ao menos uma pétala consigo para guardar numa página cândida de seu livro biográfico. Mais feliz será aquele que escutar o poeta cantar o amor na praça do reencontro.


Caxias,
Junior Magrafil
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Lei A-R


Estou aqui, perdido em mim,
buscando entender o porquê.
Seu gosto é tão acre e tão doce;
teu rosto é perfeito-inexato.
Chego perto e já me vou,
quero te dar as mãos, mas permitir.
Tuas palavras são facas,
perfuram-me no bom e no mau,
unem teu sangue ao meu,
cortam meus pulsos, quando breve.
Mas, então, decido ir embora,
e na mesma hora, voltar.
Porque gravitamos por entre nós,
forçamos tão bela e perfeitamente
a lei da atração e repulsão;
uma seiva mor de tudo.
Tu me bates e eu te beijo,
eu te culpo e tu me indultas.
Somos arquétipo d’Coulomb:
desequilíbrio contrabalançado;
ir e recuar.
Somos donos um do outro,
euforicamente perto e longe,
catastroficamente amantes;
de nova em lua-cheia,
vemo-nos e vamos
como fosse
um adeus
sem sê-lo.


Caxias,
Junior Magrafil (19-05-2009)
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sexta-feira, 10 de julho de 2009


João e o pé-de-feijão


"Doce ou amargo,
triste ou engraçado,
faço meu pedido,
enterro uh feijão e logo nasce uh pé...
ele sobe, encontra uh gigante,
joga-me a galinha, a arpa, os ovos;
e desce...
eu não corto uh pé-de-feijão,
e depois desce uh gigante...
ele fica na terra, e nós subimos de novo...
ficamos para sempre na terra do gigante,
sobre as nuvens, escutando de longe
a música apaixonante da arpa..."


Caxias,
Junior Magrafil (indefinido)
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sábado, 4 de julho de 2009


No fim do mundo


Nesse fim de tarde escuro
Neblina que dói em meu peito
Fico todo sem jeito
No fim do mundo,
Distante de tua alma cara
De tudo o que me diz pra ir,
Pra ficar, e nunca mais partir
Desse teu peito ardente

E quanto menos eu quero
A semana perdura até o fim.
Quando estou ao teu lado
O relógio sorri de mim
E quando menos espero
À noite eu enlouqueço
O sono foge de mim,
Só penso em você, meu bem,
Até mesmo quando não penso

Nesse fim de noite escuro
Quando Morfeu me fez dormir,
Sonhei com nosso mundo;
Não, sério mesmo, me diz:
por que as pessoas legais
sempre moram longe?
Pra voltar, e nunca mais partir,
Pra esse teu peito ardente?
(pra esse teu peito ardente)
(pra esse teu peito ardente)

E quanto menos eu quero
A semana perdura até o fim.
Quando estou ao teu lado
O relógio sorri de mim
E quando menos espero
À noite eu enlouqueço
O sono foge de mim,
Só penso em você, meu bem,
Até mesmo quando não penso


Caxias,
Junior Magrafil (02-06-2009)
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Vi de longe Zé Dummont
Sentado num cimento alto,
Calçada que tomou pra si
Como casa, como abrigo sem abrigo.
Vi Zé Dummont
Comendo manga e desfiando a casca,
Molhando as mãos na mesma poça que pisava:
Parecia menino que não dava importância
Às regras da vida,
Da convivência humana
Ele ria sozinho, falava sozinho;
não sei, talvez pensasse com a natureza.
Dormia num colchão moribundo,
Usando roupas moribundas
Lambendo as mãos sujas de manga
– moribundas.
Mantendo o corpo arredio de limpeza
– e a mente.
Pedras eram móveis;
Latas, panelas nobres;
Cobertor, um rude aquecedor
Em dias de chuva intensa.
Sua natureza humana confundia-se
Com a realidade dos animais:
Os bois pastorando as cascas de manga
Comendo do que comia o Zé,
Bebendo do que bebia o Zé,
Andando por onde andava o Zé.


Junior Magrafil (14-01-2009)
 

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