Ela e o medo
Ela passava dias e dias acorrentada à cama
com medo de rever o mundo,
acreditando que todo mundo
sofria menos que ela, ou vivia mais.
Mas a verdade é que quando menos esperamos
nossos sonos são invadidos
e o pecado acontece.
E o medo natural ao invés de perecer,
cresce.
Ela, então, continuava a vegetação rotineira,
mal-amada; seus calos duros
– tudo fruto do tal medo.
Por que ele haveria de fazer
tanta moléstia a esta senhorita?
Acredita-se que, passados tantos anos,
e aquela casa fechada
e mofos circundando-a
e frestas rasurando as paredes
e paisagem soturna de longe
e ainda mais lúgubre de perto,
que seu corpo feneceu de tanto medo
– que este medo tornou-a eterna
pela certeza de jamais conhecer o outro lado,
de jamais conhecer o fim.
Caxias, 15-12-2009,
Junior Magrafil.
Certo pé-de-feijão
Caio em tentações obscuras
e tudo parece tão real.
Creio em juntas noites
– nossas peles mortas.
Creio na dor sem, mas doída e boa,
no liso atrito e curvas.
A dor se desfacela ao teu contato
rude, frontal, mas amante.
A dor corrói organelas,
tudo acontece à tua aura em mim.
A espessura do teu contágio,
a despedida do teu sentimento,
o ressoar dos sonhos contigo,
dizem-me a tua calidez.
Sobriedade, solidez,
doces venenos teus
que me circundam
– tuas folhas, teu caule
contaminam-me.
Caxias, 6 de março de 2010.
Junior Magrafil.
Onipresença
Sonhaste tanto, meu bem,
pudera eu ser a tua minha vontade;
Nossas almas subiriam ao eterno
e, tão somente, cairiam à nossa verdade.
Teus ares respirariam por meu ser,
tuas lágrimas sangrariam de meus mirantes,
tua pele encostaria ofegante em minha tez,
tua boca contaria segredos à minha.
E quando menos imaginasse,
seríamos mais que divindade;
cortaríamos galáxias e colossais
em corpos juntamente onipresentes.
Amo-te como flor companheira de jardim,
como brisas constantes de uma direção;
Não fiques malferido, és eterno amor,
já dei-te meu coração e recebi teu ardor.
Teresina,
Junior Magrafil (11 de abril de 2010).
Teu; tua
Teu ar me sucumbe,
me logra sem trapo,
e até mesmo com.
Teu corpo me mata,
me almeja pensar
no tato manso.
Tua boca me lança
pra longe daqui;
sem juízo desejo.
Tua pele me roça
a tez da minha mão,
e, da alma, superfície.
Teu olhar pequeno
me escorre ventura:
cálido amor.
Caxias,
Junior Magrafil.
Outra vez
Eu gosto de tuas mãos cantando as minhas palmas,
gosto das cores da cidade que me demonstra.
Me alegra teu casto sorriso-libido
– a gota de saudade que escorre de teus olhos.
Ontem, dormimos calmos;
dormimos felizes, depois de muito andarmos;
ficamos caídos, mas levantados.
Meu silêncio te deu “bom dia”,
durante um dia que passou ligeiro.
Rasteiras, cruzavam nossas bocas,
todas brancas de pavor e sorte.
Ontem, dormimos ladeados;
dormimos felizes, depois de muito dançarmos;
atravessamos passos, a sós – calados.
Me dê mais um “bom dia”,
dê-me causas, circunstâncias, corolários...
Quero ter-te e ser-te teu novamente,
quase sempre – outra vez.
Caxias,
Junior Magrafil.
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