Mito
Dragões irritantes e maus
sobrevoaram a planície no nosso amor.
Mas, juntos, somos guerreiros imbatíveis:
atacamo-los com as próprias chamas.
Depois vieram serpentes graúdas
a fim de aniquilar tudo à sua frente;
querendo esmagar nosso fim
e engolir a paz que sempre tivemos.
Camaleões resolveram, também, frustrar-nos;
peles falsas, boa lábia, porém, falha.
Nada que não pudéssemos;
e o que nos resta senão a nossa história:
ninguém mata o amor.
Caxias,
Junior Magrafil (14-12-2010).
Aquele rosto
Nem era tão belo, talvez comum,
mas certeza que ele foi.
Aquele rosto foi-se,
como uma foice massageando
o capim, deixando-o dois
– e tudo que fica é o vestígio.
Como fez-se bucólico,
fincou cicatrizes
na pele do poeta.
Ele foi; aquele rosto foi:
amor, sedução, verso.
Continha-se de letras,
canções, quimeras rasantes.
Tais adornos aprumaram o gosto,
e, naquele momento, eles se completariam:
rosto poético; coração dado.
Foi-se o tempo, deu-se grande história
– e tudo que fica é vestígio.
Caxias,
Junior Magrafil (25-11-2010).
Meus olhinhos, de tantas lagrimas ficaram pequenos como dois botões. Eles, que já eram rasos, morreram quando tu me deste uma verdade solta, feita sem razão; doente. Bem tu sabes que foi somente uma palavra dita sem pensar. Ela era feia. Então, aqueles meus rasos olhinhos secaram.
Minhas lágrimas reais saltaram de ante de nós graças às palavras mortas e mórbidas – as drogas nos tiraram a razão. Nunca quisera arrancar dores do teu peito, amor, sei bem que além de mim existe o nós; sou seu porque somos sujeitos inteiramente completos a fim de dividir nossas alegrias.
Lembras da beleza? Sim, ela, dizia o poeta, é fundamental - ao olhar de cada um, claro. Somos belos um para o outro, a necessidade mútua nos leva para o infinito estar junto. Que agora saltem apenas lágrimas de alegria. Bonitas.
Falei duras palavras, duras porém doces. Tudo que era cinza após teu beijo tornou-se colorido. Meus dois botões agora deram por encerradas as tristezas, meu coração agora é só alegria. Encerrado o cinza, brilham nossas cores.
E meu coração, que no início foi roubado, agora é dado de bom grado ao meu senhor. A foto mais bonita que eu já fiz foi aquela que em um dia claro você olhava para mim, e toda a matiz de cores possíveis surgiu para te gravar em meus pensamentos.
Manhã
O vento encaminha-se para mim quando sei que irá voltar. Aquele sorriso esperto, aqueles pêlos em forma de arco por cima do olho atiçado, aquela expressão de ouro do rosto, hão de ver-me em atento espanto, de quando os girassóis reencontram com seu amor ao chegar do dia – raio solar.
Então, que palpitam as palavras, que gestos de zelo contribuem-se a si. É só fitar teus belos ombros escusos e os braços chamando a mim para um achego, que tudo amplifica. Chego, protejo-me em ti, dou tudo de mim neste abraço. Passa o tempo que passar ali estaremos, unidos em qualquer (re)começo.
E quando eu devo, respondo? Quando não respondo, evito? Conto contigo para qualquer resolução, justamente porque você é quem pensa para que eu haja corretamente. Não tem aquela música que diz assim: “E eu preciso é de você / Para comigo andar e para me entender / Eu preciso é de você / Pra me acompanhar e pra não me perder”? Pois sim, preciso mesmo. Sabe quando surge um sentimento de perda, daqueles de andar, andar, andar e se deparar a um passo de um abismo – de repente? É tempo de reflexão. Isso dói; mói tanto quanto um coração em dúvida. E quando alguém que te importa mais que a si mesmo te pega pela mão e diz: “Não me importa o passado” ou “Não acredite no que eles dizem / Perceba o medo de amar”. Isso também dói, mas é dor de felicidade. Olhos avermelham, molham; e a boca, antes seca, molha também, e revela um sorriso perene e tranqüilo. É paz de ter certeza por ter tido dúvida – mas é certeza, agora. É amor.
Joguete final
Perdiam um, dois, até de três;
jogavam e perdiam em suas mãos.
Agrupados, individualmente, que seja,
todo amor naquele jogo fora.
Ela de um lado, eles do outro;
eles sonhando estar naquele
– e nada.
Mas que por milagre, muda-se o roteiro,
a Dama de Vermelho quer véu branco,
o cavalheiro do outro lado ganha o jogo
e neste lado termina o embate.
Caxias,
Junior Magrafil (02-11-2010).
O beijo
Entrego-te, então meu ser.
É assim amar?
Faço deveras seja.
Razão não bem sei se é,
emoção não sei bem se é;
ambas, talvez.
Mas nós somos um beijo de G. Klimt
e, portanto, sem medo,
amamo-nos sem pensar no que dizem;
desenhados a muito ouro,
luz; auge e latente.
Entregar,
é assim amar?
Caxias,
Junior Magrafil (21-10-2010).
Eco
E ele me diz, como quem reza antes de deitar-se,
que a vida é boa ao meu lado – é justa.
Sorriso canto-de-boca e felicidade no ar,
dize-me que fica olhando o seu senhor dormir.
Eu, confirmativamente, ponho meu tempo,
minha insônia – quando a tenho – minha paz,
a debruçar-me sobre teus olhos cerrados
a sonhar comigo a nossa tal realidade
– assim como eu.
Repetidas vezes: Te amo.
Alternadas vezes: Te amo.
Sempre.
Caxias,
Junior Magrafil (madrugada de 18-10-2010).
Morar junto
Lençóis cobrem nós dois
em noites tanto frias quanto quentes,
quanto suadas,
quanto com ou sem sono.
Nossos corpos límpidos
da estrela da noite radiante,
cruzam-se na fé de serem um.
Passo minha pele sobre a tua:
cútis e alma; alma e sonho; sonho e realidade.
Passas teus olhos sobre mim:
Olhos e alma; alma e sonho; sonho e mais.
E por que não casar?
Sem ter aquela idéia de uma noite só.
E por que não casar?
Quero é morar contigo.(2x)
A brisa limpa meu sono,
mas tem dias que não realiza e queima.
Quanto calor;
quanto é normal suar teu colchão?
Nossas vidas tem razão:
te recebo em cada temporada.
E a saudade? Fé em sermos um.
E por que não casar?
Sem ter aquela idéia de uma noite só.
E por que não casar?
Quero é morar contigo.
Pra sempre.
E por que não casar?
Quero é morar contigo.(2x)
Passo minha pele sobre a tua:
cútis e alma; alma e sonho; sonho e realidade.
Passas teus olhos sobre mim:
Olhos e alma; alma e sonho; sonho e mais.
Caxias,
Junior Magrafil (12-10-2010).
Ter paz
Estar contigo, meu amor,
leva-me à exatidão de não saber;
quando estou ao teu calor,
nada mais que me importa querer.
Só sei que quero teu cheiro,
brilho e olhar de santidade.
Leve e doce, teu rosto coreógrafa
defronte de meus medos de ser;
ensaia passos de encanto de nada
e passa a me guiar, a contigo ter.
Só sei que temos paz em junto;
gratuitamente sei te desenhar.
Caxias,
Junior Magrafil (04-10-2010).
Como antigamente
Contigo amo como antigamente.
Aviso quando vou;
olho, sorrio, quando chego
e ainda ganho um beijo.
Te compro chocolate,
levo ao cinema – e pipoca.
O chuveiro filma amor
em águas soberanas.
Fotografias brincam de contar
histórias e mais estórias;
e dedos e línguas sentem
que estão em casa – e estão.
Morro de saudades como quem
nunca viu o mar pela primeira vez;
a pele dengosa se entrega sempre,
ainda que de mãos envergonhadas.
Os olhos. Ah, os olhos!
Vibrantes cores consoantes
desaguando em palavras amantes
e desenhos coloridos.
Caxias,
Junior Magrafil (04-10-2010).
Sopro e língua
Minha preferida visão
corre sobre (e sob) teu ser
como fazem meus dedos,
languidamente, com teu corpo
– meus dedos, tua língua.
Aquela cabeleira que já tiveste,
meu bem, a tenho – és tua;
lembra a ti, e, agora, a mim;
nossos caminhos que se cruzam.
O ar que sussurra prazer,
amor e quaisquer paravras
– d'uns lábios substanciais;
permeadas de lembranças boas.
O mesmo ar que nos sufoca
quando da distância horrenda
a que se destina amar e amado ser
por olhos que se conhecem bem.
Sim, teus lábios (culpados!)
fabricantes do sopro maior,
sucumbem língua, corpo, ser, memória;
donos de tudo que me torna amor
– essa tua rosa rosada.
Caxias,
Junior Magrafil (30-09-2010).
O filme perdido
Ele não sabia que vivia sozinho,
mas um dia o olhou e viu que esteve mesmo;
e pensou não estar mais.
Ele correu para o encontro,
beijou e foi beijado
tão intenso que a noção foi perdida
aquela noite.
Depois disso, aquela noite se repetia,
seu peito filmou tudo – replay.
Porém, o vídeo fazia mais sentido
só como vídeo.
As fotografias faziam mais sentido
só como fotografias.
A solidão gostava tanto dele
que não deixava
o amor dele contaminar o outro:
aprisionava, mantinha só.
Nem a empatia atingia o outro.
O vídeo preferido que a solidão mostrava
só para o coração daquele,
se perdeu.
De tanto o filme se repetir,
ele ralou, quebrou, parou de rodar.
Caxias,
Junior Magrafil (2707-2010).
essencial
não se apavore,
eu não mordo,
apenas ladro - e ladro mal.
não se assuste
com o meu falar racional,
pensar estrutural,
quase, ou mesmo longe do crédulo.
não, não se intimide,
eu sou um homem,
um menino, um cão.
mas não se curve
à idéia de que sou torto;
ensina-me a curva,
completa-me de água e sal.
Caxias,
Junior Magrafil (15-09-2010).
À noite
Dize-me estrela altiva,
que por medo de te ter
quase perdi teu brio.
Dize-me céu noturno,
que por susto, d’aquela estrela,
quase fugi-me de meu sonho.
Teto de absurdo véu escuro
que cobre todos os amores (e temores);
acalanto-me a uma luz pequena,
que me serve de poemas e cores.
Teresina,
Junior Magrafil (13-09-2010).
Sinestesia
Tua legião de luzes brancas (pois reúnem todas as tonalidades) vindas dos olhos que ambicionam negros ser – talvez pelo excesso de cor, talvez pela beleza do contraste que tu me disseste – desenham-me de maneiras cada vez mais milagrosas. Qual tal fosco? Melhor? Pois bem, que até em tuas lentes fico bonito. Fico, porque é por tuas lentes. Sim, desejo mais, bem mais contigo, dedos que ultrapassam olhares, olhares que falam com as bocas, bocas que sentem (não continuarei; vergonha); basta dizer que do mais sublime da alma ao carnal tuas virtudes me cantam melodias de brisa calma, que passa e volta, e mais tarde o calor foge e me mata de nem sei mais dizer.
Cajus, castanhas, ínas
Ele é pequeno e vem.
Sabes meus problemas
– um, a troca de pele;
dois, a minha insônia; três.
Enquanto me fazes beber água,
não me deixas esquecer:
telefone, cuecas, dinheiro
– mas lembro, esqueceste tua chave!
Ele é pequeno e vai.
Ônibus, caminhar, táxi;
pois que não me deixas.
Teu riso de linhas alongadas,
olhos fininhos, meu caju,
encantam-me de tão leves,
de tão cajus, castanhas, ínas
– Cajuína minha.
Ele é pequeno e traz.
Letras, músicas, melodias em voz;
quando me ralhas ainda pedes?
Quando me espreitas, cadê que não olho?
Teu leãozinho vaidoso,
sou à estrela ou sob o calor,
sobre lembranças e tempo;
que desenhas em corpo e mente.
Caxias,
Junior Magrafil (08-09-2010).
Fluição
Tal como o poeta escreve mais
na tristeza;
o pintor colore sua tela
na feliz motivação.
Tal como o jardineiro poda detalhes
no outono;
o ator reverbera no palco
sensibilidade.
Tal como o compositor reordena-se
pelo achego;
um violino fino e calmo toca
– mais doce;
ao te ver à minha face,
em meu instante,
em tudo mais ou de menos que há.
Meu bem, as tuas mãos
afogam dores do passado
e afagam o que há em constante
no desejo: sufrágio.
Caxias,
Junior Magrafil (02-09-2010).
Pêlos e tinta
Traiçoeira, pensou jamais amor.
Contudo, no dia em que olhou aquelas telas
pintadas com tinta de romance,
a Raposa felpuda e gananciosa
ficou ainda mais brio, porém amante.
Viu a assinatura, gravou-a na língua molhada,
e foi capaz de sentir o Pintor por inteiro.
Amou, amaram-se.
A utopia das cores daquele autor
é lucidez nos pêlos da raposinha.
Caxias,
Junior Magrafil (30-08-2010).
O amor segundo a raposa
A raposa esperta e graciosa
aproximou-se de uma videira
de convidativos cachos escuros.
A raposa tentou alcançá-los,
mas o insucesso da operação
a desestimulou e entristeceu.
Diferente de outros ditos,
a minha raposa, triste, não se negou;
tentou, tentou, até cair um cacho.
Diferente dos demais, observou que neste
só havia uma uva madura e boa.
Mas o trabalho foi recompensador:
única uva, único amor.
Caxias,
Junior Magrafil (29-08-2010).
Da saudade
Me conforta a noite em que
as memórias se casam novamente.
Me conforta a dor estéril
de virgens sorrisos, e castos libidos.
Não. Sorrisos maculados de passado.
Sim. Macular-se-ão: nova alvorada?
Sim?
A mácula é limpa de amor,
é suja de tesão;
é devassa de quase sem-dor;
é mais lembrança, mais amor;
mais saudade.
Sussurros sem maldade
que meio pensam curiosamente
em corolários
– não há senão saudade.
Caxias,
Junior Magrafil
O amor
O amor é um guarda-chuvas
em dias de chuva intensa;
é um pôr-do-sol quase nascendo;
música boba em fone repartido.
O amor são mãos dadas,
escondidas do peso de olhares;
são olhos que se batem,
envergonhados; ou não.
O amor é repetição de histórias
quando se pensa que é novidade;
é sussurro de segredos e detalhes
que não importariam – importam.
O amor é uma conversa estranha
que tem graça e bom senso no final;
é um tempo gasto que se ganha bônus
e que se gasta de novo e ganha mais.
O amor é indecisão certa do que faz;
é esquecimento de opiniões terceiras
de quem não entende, porque não mesmo
se entende o bem maior da relação.
O amor é quase um louco suicida,
se entrega, se engana – “opia-se”;
faz as bocas falarem uma só língua,
faz corações trocarem; e o resto.
Caxias,
Junior Magrafil (23-08-2010).
Imputação
Desculpa se fui fútil,
nada útil,
em minhas dores.
Desculpa se fiz rir,
fiz chorar,
com minhas vozes.
Me entenda, luz,
o que eu fiz
não foi verdade.
Me entenda, rei,
hei de dar-me
e ser saudade.
Desculpa se fui algoz,
nada mais,
com suas cores.
Desculpas não mais darei,
pois já sei:
sou mortal, não tenho nomes.
Caxias,
Junior Magrafil (22-08-2010).
Final feliz
Adeus: uma vez só na vida;
chegamos perto,
ficamos longe.
Você lembra o que eu aprendi?
Sim, por isso eu te amei;
então, não mais;
então, jamais dor
porque tudo acabou feliz.
Você lembra de mim?
Acho que não,
mas sei que não precisa;
e foi por isso
que tudo não foi como todos
– diferente.
E foi por isso
que deu tão certo
– e tão errado.
E foi por isso
que, no fim,
não precisei do teu carisma
inexistente.
Amo-me:
aprendi contigo.
Caxias,
Junior Magrafil (17-08-2010).
Sinal
Teu homem se veste do nada
correndo sem força p’ra tudo.
Ele não sabe ao certo
se suicida o desejo ou
se mata a meta que tinha
– não mais a tem.
Ele salva a insônia
e afoga indevidamente a ilusão.
Não mais sabe escrever poesia,
não mais sabe levantar do enterro,
não mais sabe
– só cai.
Dorme de tanto acordar;
acorda de tanto mosquito,
mosquito que dói e não teme.
Teu homem cansou de esperar;
resolveu duvidar da forca,
da lança, até do facão.
Ele ameaçou o divino fim e,
quando, enfim, relutou
não houve sinal senão
morrer de amor.
Caxias,
Junior Magrafil (03-08-2010).
Novidade
Não to afim de qualquer novidade,
não quero saber.
Só quero aquilo que já é,
que está sendo;
aquele rosto louco,
menino,
que me faz endoidecer.
Considere esse sufoco
– ninguém entende.
Quando estou com você
tá tudo bom demais.
E o receio sorri de mim
– vinga-se – quando estou só.
Grito pelas melodias,
canto pelas letras,
e penso?
Penso em você.
Não, não me deixe para mais tarde;
teu Verão é agora.
Novidade, não tô muito afim,
o que já tenho, tá certo.
Tua manha me confunde,
e penso.
E penso fingir rir;
você sorri e tudo fica bem.
Caxias,
Junior Magrafil (07-07-2010).
Entre paredes
Em teu quarto.
Dermes:
sinto-te as carnes do Dentro;
Epidermes:
alteram-me o Fora.
Em teu quarto:
durmo,
reconheço,
acordo,
cuido.
Em teu quarto:
deito,
assisto,
levanto,
como.
Em teu quarto:
sou eu mesmo
sendo tu,
sendo o que te ama;
banal e único.
Caxias,
Junior Magrafil (21-07-2010)
Você é uma criança ainda. Não há nada que eu te fale, que te faça ver além dos teus inocentes olhos. Tu enxergas apenas a pureza dos teus sonhos e quando te rebato com os meus, estes parecem tão simples olhados aos teus olhos, que passo a aceitá-los assim – e me preocupo menos. A vida ao teu lado é um jogo de carícias. Tão grandes quanto teus olhos felizes (e um pouco puxadinhos) são minhas dúvidas, mas elas acabam por esquecidas quando me entorpeço com a tua presença. Deitado no teu cobertor, te olhando enquanto dorme, isso é para sempre. É uma imagem que não se apaga de mim. Teus olhos.
Exilando-me
E se eu sumir?
E se eu não disser mais nada?
Minha calma sempre alterna
do manso para a raiva
quando tudo mais me ocultas.
Gosto de transparência
- lucidez.
Gosto tanto, tanto,
mas te quero de véu para os outros
- só para os outros.
Entenda-me: tu és eu.
Portanto, também sou tu
- e teu.
Só teu.
Entenda-me: devemos ser nós.
Minha vida te pertence,
assim como a tua, a mim.
Mas e se eu também sumir, me verás?
Caxias,
Junior Magrafil (27-06-2010).
Sentar (Não sentar)
Não te culpo por andarmos dessa maneira. Na verdade, não há culpa de ninguém. Simplesmente nos encontramos devido ao acaso, naquele evento em que nem eu, nem você era pra estar – mas estávamos, não é mesmo?
Ainda não descobri a música que te merece, talvez porque eu não tenha percebido as tuas vírgulas mais importantes – e nem você, as minhas. Vergonha de banhar juntos, não-ausência da minha falta, poucas palavras, embora suficientes para uma meiga comunicação. Isso é estranho – ao menos pra mim.
Uma vez me disseram que o amor é egoísta. Sempre queremos “puxar a sardinha” pro nosso lado. Sempre queremos ser felizes ao nosso modo (ao menos nós). Não, não te culpo. Mas eu devo cobrar. Não posso cobrar? Acho que posso.
Sei que tua natureza é muito, mas muito distante da minha. Mas somos parecidos também. Apesar das diferenças, você vê a maneira que eu te olho? Eu vejo a maneira que você me olha e sei que é de um jeito cheio de paz. Amar não e sentir paz? É.
Sabe, temos defeitos – nós dois temos. Mas eu gosto dos teus defeitos, só não quero confessá-los, até porque perderia a graça se você ficasse sabendo – pois olhá-los me faz sorrir de você (jamais com chacota), aliás, me faz sorrir com você. Não te culpo por andarmos em passos um pouco distantes, mas já chegamos aqui tão rápido, não é? Eu te espero – mas não me deixe sentar.
Caxias,
Junior Magrafil (23-06-2010).
Teu nome é meus pés
Não precisei mais que uma noite,
uma ingênua noite,
para entender que
fiquei vulnerável ao teu olhar
– em cantos.
Analisei tua forma de falar,
de gesticular (e até de pensar).
Avaliei para não cometer erros:
de quando me abri aos teus olhos
e desvendei um pouco deles
(o mais difícil).
Respirei no teu ar
e pude, bem devagar, sentir;
tua tez lisa, deslizando pela minha,
bocas atritando com amor
– cheiros começando a se memorizar.
Desde então, lembro-me de cada instante,
e escrevo teu nome nos meus pés.
Caxias,
Junior Magrafil (06-06-2010).
Mistério
Não conheço tua essência,
mas corrói em mim teu silêncio.
Não penso ao te ver,
me descompenso.
Rosto púbere,
cor jambiana
– calma.
Simples falar;
intimidade a olhares tortos
e certos
e quase retos.
Todas as vozes de minha consciência
doem no que nos separa.
Em outras vidas,
meu doce Mistério,
nasceremos juntos.
Caxias,
Junior Magrafil (28-05-2010).
Conto de fadas
A rosa que me levou para longe,
que quase me tirou de mim,
que me trouxe de volta à ilusão,
manchou minh’alma doce
de vermelho e sangue-lágrima
e pétalas em amálgama
e espinhos de suave risco
– outrora havia a me tocar harpas.
Soube hoje que a alvorada encerra
todo o meu, antes nosso, conto de fadas.
Caxias,
Junior Magrafil (24-05-2010).
Decadência do silêncio
Morgar,
no anseio de nada mais fazer,
na certeza de nada mais existir,
na incompreensão do sossego,
– nada é maior dor.
Sofrer,
não-pretensão de ir em frente,
esquecer-se de tudo que havia entendido,
mirar, mas não enxergar o desejado.
Tudo ofende quando teu silêncio cala,
quando tuas palavras se negam a mim
– todos os planos decaem.
Caxias,
Junior Magrafil (24-05-2010).
Pierrots e Arlequins
Entre pierrots e arlequins;
duplos, cantos, tantos,
não sei o que mais me encanta.
Meu Pierrot é utopia,
tanto quanto, talvez menos,
o meu Arlequim.
O primeiro já foi meu,
o segundo reservou-se a mim;
aquele, há tempos me conhece
e desconhece;
este, porém, há pouco.
São adversos, são belos;
cada um à sua feição
– e causaram-me.
Seus tempos antagônicos,
suas carnes opostas,
seus rostos contrários,
– e suas mãos idênticas.
Eles se encolheram,
o medo medra,
enquanto o sentimento flui.
Pierrots e arlequins são tão diferentes
e tão alucinantes
quanto a minha razão.
Meu Arlequim é charmoso,
tanto quanto, talvez menos,
o meu Pierrot.
Eles desconhecem meu claro amor.
Oras, Colombina é a dúvida!
Eu corro da certeza,
porque o incerto é deleitoso.
Até quando meu amado Pierrot?
Até quando meu desejado Arlequim?
O coração de uma Colombina é dor,
é ainda mais dor que o Amor.
Pierrots e arlequins são tão distantes
quanto a androgenia grega.
Perrots e arlequins completam
uma Colombina imperfeita.
Caxias,
Junior Magrafil (05-05-2010).
Segredos
Quero ser um segredo,
porque se se conta um segredo,
ele o deixa de ser.
Quero ser um segredo-segredo,
que faça jus à repetição,
que se ecoe em uma boca somente.
Quero ser o segredo único,
daquele segredo que já é meu,
mesmo que eu apenas sonhe.
Quero ser o teu segredo cotidiano,
tua prece ao cair a noite,
quero ser, ainda, tua novidade ao narrar.
Caxias,
Junior Magrafil (04-05-2010)
Ela e o medo
Ela passava dias e dias acorrentada à cama
com medo de rever o mundo,
acreditando que todo mundo
sofria menos que ela, ou vivia mais.
Mas a verdade é que quando menos esperamos
nossos sonos são invadidos
e o pecado acontece.
E o medo natural ao invés de perecer,
cresce.
Ela, então, continuava a vegetação rotineira,
mal-amada; seus calos duros
– tudo fruto do tal medo.
Por que ele haveria de fazer
tanta moléstia a esta senhorita?
Acredita-se que, passados tantos anos,
e aquela casa fechada
e mofos circundando-a
e frestas rasurando as paredes
e paisagem soturna de longe
e ainda mais lúgubre de perto,
que seu corpo feneceu de tanto medo
– que este medo tornou-a eterna
pela certeza de jamais conhecer o outro lado,
de jamais conhecer o fim.
Caxias, 15-12-2009,
Junior Magrafil.
Certo pé-de-feijão
Caio em tentações obscuras
e tudo parece tão real.
Creio em juntas noites
– nossas peles mortas.
Creio na dor sem, mas doída e boa,
no liso atrito e curvas.
A dor se desfacela ao teu contato
rude, frontal, mas amante.
A dor corrói organelas,
tudo acontece à tua aura em mim.
A espessura do teu contágio,
a despedida do teu sentimento,
o ressoar dos sonhos contigo,
dizem-me a tua calidez.
Sobriedade, solidez,
doces venenos teus
que me circundam
– tuas folhas, teu caule
contaminam-me.
Caxias, 6 de março de 2010.
Junior Magrafil.
Onipresença
Sonhaste tanto, meu bem,
pudera eu ser a tua minha vontade;
Nossas almas subiriam ao eterno
e, tão somente, cairiam à nossa verdade.
Teus ares respirariam por meu ser,
tuas lágrimas sangrariam de meus mirantes,
tua pele encostaria ofegante em minha tez,
tua boca contaria segredos à minha.
E quando menos imaginasse,
seríamos mais que divindade;
cortaríamos galáxias e colossais
em corpos juntamente onipresentes.
Amo-te como flor companheira de jardim,
como brisas constantes de uma direção;
Não fiques malferido, és eterno amor,
já dei-te meu coração e recebi teu ardor.
Teresina,
Junior Magrafil (11 de abril de 2010).
Teu; tua
Teu ar me sucumbe,
me logra sem trapo,
e até mesmo com.
Teu corpo me mata,
me almeja pensar
no tato manso.
Tua boca me lança
pra longe daqui;
sem juízo desejo.
Tua pele me roça
a tez da minha mão,
e, da alma, superfície.
Teu olhar pequeno
me escorre ventura:
cálido amor.
Caxias,
Junior Magrafil.
Outra vez
Eu gosto de tuas mãos cantando as minhas palmas,
gosto das cores da cidade que me demonstra.
Me alegra teu casto sorriso-libido
– a gota de saudade que escorre de teus olhos.
Ontem, dormimos calmos;
dormimos felizes, depois de muito andarmos;
ficamos caídos, mas levantados.
Meu silêncio te deu “bom dia”,
durante um dia que passou ligeiro.
Rasteiras, cruzavam nossas bocas,
todas brancas de pavor e sorte.
Ontem, dormimos ladeados;
dormimos felizes, depois de muito dançarmos;
atravessamos passos, a sós – calados.
Me dê mais um “bom dia”,
dê-me causas, circunstâncias, corolários...
Quero ter-te e ser-te teu novamente,
quase sempre – outra vez.
Caxias,
Junior Magrafil.
*Nosso amor é eclipse
Nosso amor é eclipse
Vem quando não sei
Surge quando não vi;
E quando vejo, já flui...
Corre pelas veredas do nunca,
E este, repõe traços, que,
Aos poucos vive, cresce...
Transcende o nosso reino
Faze-nos príncipe e princesa,
Faze-nos longe e perto,
E beijos e carícias
Azuis e vermelhos,
Nas cores do que nos
Une, nas cores...
Caxias, (sem data)
Junior Magrafil.
*Essa foi feita em homenagem a dois amigos meus. Ele indeciso e ela ainda mais, porém foi tudo intenso....rs'
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